domingo, 28 de junho de 2015

O lado bom da ignorância

Com toda essa avalanche de informações que recebemos a cada minuto é quase impossível ficar indiferente ao que acontece no mundo. E uma coisa que tem chamado minha atenção nos últimos anos é a necessidade que praticamente toda a população do planeta tem em dar um pitaco, uma opinião, uma observação ou qualquer outro nome que se dê para o incrível e necessário hábito de expressar-se perante todos.

Pois bem, como todos os excessos esse também trouxe rapidamente seus dissabores. 

O que tenho visto é o quanto se tornou fácil e corriqueiro entrar em redes sociais, ler os posts alheios e pimba! Descarregar ali todo o seu ódio e revolta com aquilo que é contrário ao sua forma de encarar a vida.


Xingamentos, ofensas e falsa moral têm sido moeda de troca. Já havia lido em algum lugar que ficar lendo comentários deste tipo causam depressão em muita gente. Posso imaginar...

Refleti um bocado sobre os efeitos que atitudes tão estúpidas quanto gratuitas podem causar e a conclusão foi apenas de descrença ao ponto em que chegamos.

O Facebook disponibilizou nesses últimos dias uma ferramenta permitindo que o perfil do usuário fique com as cores representando a aprovação do casamento igualitário nos EUA e milhares de perfis ganharam esse tom agradável de apoio e respeito.

Mas não demorou muito para que isso trouxesse também o ódio e todos os outros tipos de sentimentos horríveis de pessoas contrárias a este direito. Geralmente apoiadas num falso cristianismo e carregados de versículos da Bíblia, as mensagens vão desde mero descontentamento a ofensas graves.

O lado bom disto, que por incrível que pareça existe, é que ao fazerem isto as pessoas mostram suas caras, mostram exatamente o que pensam por trás de seus perfis sorridentes. Deixam claro o quão perigosas e horrendas são suas idéias sobre humanidade.

Ao agirem assim, pelo menos nos ajuda a identificar de quem devemos manter distância ou ficar de olhos bem abertos. Afinal se você conviver com elas num ambiente de trabalho, de estudo (embora ache isso difícil tendo em vista o vocabulário limitado e a péssima ortografia nos comentários), em lugares públicos ou outros eventos, pelo menos saberá com quem está lidando.

Porque uma coisa é certa, toda essa coragem virtual de xingar,ofender,tripudiar e ameaçar homossexuais diminui muito quanto a coisa é ao vivo e a cores. Literalmente.

Se for subordinado a um chefe que seja gay então, melhor guardar os comentários para fazer quando estiver na copa tomando o cafezinho. E a certeza de que xingar um casal gay na rua ou em algum outro lugar desde que seja ao vivo, requer bem mais coragem do que vomitar revolta e ignorância pela internet,né? 

domingo, 14 de junho de 2015

Uma realidade difícil de engolir.

Você nasce num país, assim como muitas outras pessoas. É criado por seus pais, aprende a conviver com irmãos, parentes, vizinhos ou quem mais for dependendo de sua origem.
Em algum momento você percebe que tem seu lugar no mundo.
Que é dotado de inteligência, de desejos, de vontades e irá procurar viver da melhor forma possível (quem não quer ser feliz, né?) com aqueles próximos à você.

Esta é a maneira pela qual eu procuro concentrar meu pensamento e minha forma de ver a vida.
Em qual momento da vida, um ser (humano?) decide que o que ele acredita ou a forma que ele escolheu para viver é a única que pode ser vivida? Em qual momento lhe foi dado este direito sobre a vida de outras pessoas, que afinal ocupam o mesmo planeta?

A crença em qualquer religião, seita, deuses e líderes religiosos é puramente individual.Algo que você escolhe seguir, acreditar ou algo mais que o valha.

Mas isto não dá o direito a NINGUÉM de decidir sobre a sagrada vida de outra pessoa.
Ainda que todas as bíblias ou outros escritos considerados sagrados fossem todos queimados e não mais existissem, ainda assim as pessoas de boa índole, de bom coração e que foram criados amorosamente, que aprenderam a discernir o certo do errado de acordo com a criação que teve, saberiam conviver da melhor forma possível.

Não acredito que somente quem acredita nesta ou naquela religião tem o direito de estar vivo e gozar plenamente de todos os direitos concedidos aos demais seres humanos,conforme aprendemos através de uma Constituição que deveria privilegiar a todos.

Quem além de si próprio, sabe o que fazer com o que sente, com a forma que se encontra no mundo, como enxerga o próprio corpo?

Essas criaturas que hoje sentam-se em cima de suas bíblias ou outros escritos sagrados para dizerem e forçarem os demais a aceitarem suas verdades, que fazem uso de sua fé como se fosse uma lei imutável, desde que lhe seja útil para tirar do caminho todos aqueles que consideram difíceis de se conviver, covardemente abreviam a existência de outros que deveriam considerar no mínimo, como pessoas iguais, que possuem pai, mãe, irmãos, que trabalham e pagam seus impostos.

Afinal, devem pensar, o mundo foi feito apenas para quem decide qual a forma certa (ela existe?) de se viver.

E esses homens, quanto mais instruídos e com mais poderes políticos tiverem, mais curta será a vida de muitos, que assim como eu, optaram por dar vazão a sua existência, por ocupar seu lugar no mundo e mesmo sendo difícil encarar o julgamento diário de pessoas que acreditam piamente possuir tal direito, resolvem encarar e procuram a melhor forma de conviver com tanta falta de humanidade.

Onde sobra intolerância, falta inteligência.

O jovem Rafael, de apenas 14 anos, morador de Cariacica (ES) que sonhava apenas em ser um estilista, foi assassinado, espancado por paus e pedras apenas por ser gay. Por ser afeminado, por não ser como os outros achavam que ele deveria ser. Explicar para a mãe dele hoje, que seu filho não está mais com ela, porque alguns acreditam que é melhor um filho morto que um filho viado não é uma tarefa digna.

Dá, realmente, para acreditar num país onde esse tipo de coisa é incentivado numa Câmara, onde deputados eleitos pelo povo, que deveriam estar fazendo jus aos seus cargos e procurando a melhoria de vida do povo, bravejam e apoiam essa barbaridade?
Linda e triste nação essa em que vivemos.