Mesmo após quase 3 dias com uma infecção que insistiu em me atormentar, na sexta feira já estava me sentindo um pouco melhor e consegui ir com o Gilmar assistir a peça "Escuta, Zé Mané!" lá no Sesc Paulista. Já tinha perdido os ingressos da peça "Bruta Flor" que veria na quinta mas não consegui.
Foi uma noite agradável e tava precisando mesmo de ver algo interessante e que me fizesse sentir parte da cidade novamente...
Na peça, o ator Paulo César Peréio vive um sujeito atormentado pelos seus ''eus''.
O texto, inspirado em "Listen, Little Man!", do psiquiatra austríaco Wilhelm Reich (famoso por ideias libertárias em relação ao sexo, a sentimentos e à política), foi adaptado e transfigurado pelo próprio Peréio. "O que eu quis foi popularizar o Reich. Trazê-lo para perto das pessoas e de questões cotidianas. Também quis mostrar seu lado mais político, que é o que pouca gente conhece, não é?"
O ponto de partida do espetáculo é uma simples palestra, ministrada por um híbrido Peréio/Reich. A partir de determinado ponto, Peréio/ Reich começa a ser assombrado pelos seus outros "eus": o masculino, interpretado por João Velho (filho de Peréio), e o feminino, papel assumido pela atriz Neca Zarvos. Assim, Peréio/Reich constrói pontes entre o psiquiatra, o ator e a história brasileira dos últimos 50 anos.
Os atores João Velho e Neca Zarvos fazem um interessante trio com o grande Peréio. São papéis interessantes e muito sinceros.
A quantidade de idéias, fatos, conceitos e assuntos debatidos no decorrer do espetáculo é incrível. Como comentei depois com o Gilmar, essa peça é uma daquelas que você vai assistindo, ouvindo o que os atores/personagens dizem e vai assimilando de imediato algumas idéias na sua vida. Tudo muito rápido e de forma agradável. Mesmo com temas tão difíceis para serem tratados, a leveza de algumas cenas e o bom humor injetado em algumas falas, tornou tudo mais digerível e de fácil assimilação.
Difícil é esquecer de algumas falas que praticamente colocam o dedo no nosso nariz e dizem : "Escuta aqui,seu Zé Mané.." e por aí destilam vários traumas, preconceitos, dogmas e mesquinharias que carregamos ao longo da vida. Seja por qualquer razão, cultura, ensinamento e crença não vale a pena reproduzirmos atitudes que condenamos em outras pessoas e acabamos repetindo em maior ou menor grau. Se puder vá assistir...Uma boa experiência!