segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Protagonistas



Tô começando a viajar grandão mesmo. No sentido de querer compartilhar tudo que ando pensando. Talvez ninguém tenha interesse, mas como decidi que escrever seja uma terapia diferente à ser aplicada a minha pessoa, então acho que vale a pena.
Adquiri um hábito com o passar dos anos de observar as pessoas. Digo, não só olhar desinteressadamente como fazemos sempre, nos ônibus, mercados, feiras e elevadores. Observar mesmo, sabe? Aquela vontade de descobrir a estória daquela pessoa em alguns segundos olhando para o rosto, para as expressões estampadas naquela face. Numa cidade como São Paulo é uma loucura tentar imaginar isso...rss..Com tanta pressa que temos é raro conseguirmos pensar em nós e nos que estão mais próximos, como familiares e amigos queridos.
Mas quando consigo, geralmente a caminho do trabalho ou quando estou sentado em alguma praça esperando alguém, fico meio que fascinado com isso. Cada pessoa, cada gesto praticado, cada olhar pro vazio mostra tanta coisa, mesmo que seja somente imaginação de quem vê...
Eu sempre procurei me ver como protagonista de minha estória, afinal eu que terei as consequências de minhas atitudes em qualque âmbito que seja.
Quando olho as pessoas, fico pensando quantas delas pensam assim. Ou será que muitos se conformam em serem coadjuvantes de uma estória que é delas mesmas? Quantos preferem permanecer no anonimato para que seu colega de trabalho seja reconhecido em seu lugar, para que seu marido sinta que mantém as rédeas do lar, para que sua esposa sinta que ela sim é quem tem razão nas discussões, para que o filho mesmo não fazendo o menor esforço tenha direito a "tudo aquilo que eu não tive na infância"...
Eu tento entender porque se anular parece mais fácil do que se fazer entender. Bom, também não é minha pretensão entender algo assim...Ainda não estudei o suficiente para tal. Mas gosto de pensar e até discuto isso com amigos durante um jantar ou um café, buscando cada um a seu modo, se fazer entender e compartilhar desse sentimento de inquietude. Acredito que isso nos faz bem...Afinal são nossos semelhantes e oras...nós mesmos...
Lembrei de uma cena agora, que ocorreu há uns meses atrás. Estava com o Gilmar no Sax, um restaurante aqui próximo a Santa Casa da Santa Cecília. Era um domingo, final do dia já, tava meio nublado decidimos comer fora. Eu me servi primeiro e sentei aguardando o Gilmar sentar a mesa para começar a refeição. Quase não havia movimento, poucas pessoas. Na mesa à minha frente um casal de idosos estavam terminando a refeição, acredito. Eu fiquei olhando, não sei exatamente o porquê. Deveriam ter em torno de 75 ou 80 anos. Eu vi aqueles dois, pareciam tão próximos, se olhavam com uma ternura que dava para sentir. Ela comia a sobremesa com as mão trêmulas mal conseguindo manter firme o talher, aquilo me encheu os olhos de lágrimas. Fiquei pensando rapidamente quão maravilhoso ter essa longevidade. Não consegui ficar olhando muito e troquei de lugar, sentando de costas para eles, quando o Gilmar chegou. Foi estranho , mas me emocionei ao vê-los. Quando voltei o olhar eles já estavam de saída e o senhor se levantou primeiro estendeu a mão à sua esposa, segurou-a levando a mão dela aos lábios num gesto de carinho que me deixou feliz por ter visto aquela cena.
Admirar esses pequenos trechos da vida de alguém que desconheço me encanta. Me faz refletir muito. Afinal todos temos nossas estórias e como vamos nos lembrar delas, depende muito mais de nós do que do acaso.

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